No dia 02 de Junho, um grupo de 50 alunos do 10º e 11º ano, inscritos em EMRC – Educação Moral e Religiosa Católica, acompanhados pelos professores Goreti Azevedo, Manuela Formoso, Orlando Marinho e Sandra Lázaro, efectuaram uma visita de estudo à cidade espanhola de Salamanca.

Era uma vez… como todas as mais belas e memoráveis narrativas podia ser assim a génese desta visita de estudo. Contudo, preferimos começar por uma questão – “As pedras falam?” No entender de Maria Alberta Menéres, no seu livro “Conversas com Versos”, extraordinariamente cantado pela sua filha Géninha Melo e Castro e ricamente ilustrado pela sua neta, Mariana Melo – um pilar fabuloso de três gerações, “As pedras falam, só entende quem quer, todas as coisas têm uma coisa para dizer.”

As pedras que se ergueram há mais de 2700 anos a partir da colina de São Vicente, sobranceira ao rio Tormes, afluente da margem esquerda do Douro, e que permitiram constituir aquilo que é hoje a cidade de Salamanca, carregam consigo um manancial de estórias, ancestrais ou mais recentes, reais ou imaginárias, que nos fazem conhecer, sonhar e viajar no tempo…

A imponente fachada da Universidade de Salamanca, fundada em 1218, encerra em si uma lenda – a da rã. Segundo os eruditos, reza a lenda que “se um estudante, sem ajuda, encontrar a rã que está na fachada passará nos exames. Se, todavia, não for estudante, após encontrar a rã pode pedir um desejo que o mesmo se concretizará.” Não admira, pois, que no local se encontrem diariamente dezenas de turistas não só a admirar a bela fachada mas também com a curiosidade de encontrar a rã, com que intuito? - Cada um o saberá e guardará para si! Presumimos que os alunos do 11º Ano, com os exames à porta, não se tenham feito rogados nos pedidos… no final dos mesmos se saberá se funcionou. Mas alertamos, também é preciso que façam a sua parte, estudar!

Iniciou-se a visita pela “La Clerecia”, edifício monumental de estilo barroco construído pelos Jesuítas no século XVIII, e que hoje funciona como a sede da Universidade Pontifica de Salamanca. Mesmo ali ao lado, a funcionar como Biblioteca Pública, encontra-se um dos palacetes salamantinos mais famoso a “Casa de Las Conchas”. Construído entre o final do século XV e início do XVI, representa o que de melhor a arquitectura gótica civil espanhola produziu. O motivo pelo qual a sua fachada se encontra impregnada de conchas é uma incógnita. Poderá ser, eventualmente, pelo facto de Don Rodrigo Maldonado, o seu mentor, ter pertencido à Ordem de Santiago e também de na heráldica da sua esposa constar a concha, símbolo de amor.

Seguiram-se as catedrais, “Vieja” e “Nueva” que é como quem diz, velha e nova. A primeira, românica, cujo silêncio profundo convida à oração e à dialéctica com Deus, e a segunda, compreendendo vários estilos e outros tantos períodos distintos da construção da cidade, desde o gótico, passando pelo renascimento e acabando no barroco. Pensada para os grandes rituais, a sua monumentalidade, para além do convite à contemplação, deixa a sensação da pequenez do Homem e a complexidade do Mundo. Das Torres de ambas obtêm-se uma vista panorâmica absolutamente divinal de toda a cidade e em particular do seu centro histórico. Resta saber o que está a fazer um enigmático Astronauta (século XX) na fachada da catedral nova (século XVI-XVII)?

Aos poucos aproximamo-nos do convento dominicano de Santo Estevão - também designado por Protomártir, é considerado o primeiro mártir do cristianismo -, de arquitectura renascentista, alberga no seu interior um conjunto valioso de retábulos barrocos, cujo maior tem a altura de 27 metros, está datado de 1693, e é considerado o primeiro trabalho do madrileno Churriguera - José Benito de Churriguera -, em Salamanca. Actualmente serve de abrigo aos Dominicanos.

Por último, dirigimo-nos para a “Plaza Mayor”, uma das mais belas e imponentes praças de Espanha, do período barroco, que marca de forma indelével o urbanismo e a arquitectura quer de Salamanca quer da própria Península Ibérica. Desenhada pelo arquitecto Alberto Churriguera, irmão de José Benito, e a quem um dia Unamuno apelidou de “coração cheio de sol e ar”, foi desde a sua fundação em 1755, Consistório, Mercado, Praça de Touros, Sala de Espectáculos - Teatro e Concertos, ponto de encontro e lugar de passeio, para além de testemunho das vicissitudes políticas, socioeconómicas e religiosas da Espanha em geral e de Salamanca em particular. É hoje o centro nevrálgico da vida social e cultural de Salamanca, e de onde se pode e deve partir à descoberta desta. Ao terminarmos aqui a visita não podíamos deixar de referir a insólita escultura em bronze do escultor e ceramista maiorquino Miquel Barceló, que ali encontrámos - um elefante gigante -, perdoem-nos a redundância, com 8 metros de altura, invertido suportado pela própria tromba, que pretende transmitir o vigor e a energia das cidades. Antes de Salamanca, a mesma já esteve em Barcelona, Madrid e Nova Iorque. Estará o nosso Nobel da literatura a dar voltas na tumba com a Viagem deste elefante?…

Há uma tradição em Espanha, segundo a qual, quando um monumento é restaurado coloca-se, acrescentando, um elemento novo marcante que retrate a época em que o restauro foi feito. Tendo a Catedral Nova sido restaurada na década de 60, compreende-se a opção pela colocação de um Astronauta na sua fachada. “As pedras falam, só entende quem quer, todas as coisas têm uma coisa para dizer.”

(por Orlando Marinho)